quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Texto Paidégua

Há tempos estou procurando um texto que guardasse o modo peculiar do paraense se expressar, que trouxesse suas gírias e sua cultura, então recebi hoje esse que segue abaixo, (desconheço a autoria) da amiga Maria do Rocio. Fiz-lhe uns pequenos, micro ajustes, e acho que atende ao que  nos propomos aqui neste Blog: apresentar os linguajares brasileiro, alguuns quase dialeto. Ao final um glossário dos termos empregados no texto. Franz

Um dia eu tava buiado, pensei em ir lá em baixo comprar uns tamatás. Tava numa murrinha, mas criei coragem, peguei o sacrabala e fui. Chequei tarde só tinha peixe dispré. O maninho que estava vendendo tinha uma teba de orelha do tamanho dum bonde. O gala-seca espirrou em cima do tamatá do moço que tinha acabado de comprar, e no meu tembéim. Ficou tudo cheio de bustela... Axiiiiiii, porcaria! Não é potoca, não.

O dono do tamatá muquiou a orelha-de-nós-todos, mas malinou mesmo. Saí dalí e fui comer uma unha. Escolhi uma porruda! Égua, quase levei o farelo depois. Me deu um piriri. Também...perece leso, comprar unha no veropa. Comprei uns mexilhões, um cupu e um pirarucu, munto fiiiiiirme, mas um pouco pitiú.

Fui pra parada esperar o busão. Lá tinha duas pipira varejeira fazendo graça pro meu lado. Fiquei cheio de pavulagem, pensando com meus botões...ÊEEEE, ela já quer... Mas, veio um Paar-Ceasa sequinho e elas  entraram... Fiquei na roça, levei o farelo.

O sacrabala veio cheio e ainda começou a cair um toró, égua-muleke-tédoidé, pense num bonde lotado. Eu disse: éguaaaaaaaa, voimbora logo.

No sacrabala lotado, com o vidro fechado por causa da chuva, começa  aquele calor muito palha. Uma velha estava quase despombalecendo. Daí o velho que tava com ela gritava arreda aí menino pra senhora sentar aí do teu lado. O menino falou: Hmm, tá, cheiroso.
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GLOSSÁRIO

Axiiiiiii = expressão de nojo
Buiado = cheio de dinheiro
Bustela = meleca
Cupu (cupuaçu) = fruta regional
Despombalecendo = desmaiando
Dispré(despreparado)= ruim
Égua = expressão paraense para qualquer coisa excepcional
Gala-secapateta
Lá em baixo = o Centro/Belém
Levar farelo = se deu mal
Leso = tonto
Muquiou (v. moquear=assar na brasa) = + ou - esquentar
Malinou (v. malinar) = fez maldade
Munto fiiiiiirme = muito legal
Murrinha =preguiça
Na roça = mal
Pavulagem = cheio de si, metido
Paar-Ceasa sequinho = ônibus vazio
palha = ruim
pitiú (piti-ú) = mau cheiro (geralmente de peixe)
Piriri = caganeira
Potoca = mentira
Porruda = muito grande
Sacrabala = ônibus Sacramenta-Nazaré
Tamatás (tamuatá) = tipo de peixe cascudo
Tá, cheiroso = expressão de desdém ou pouco caso
Teba = grande
...-tédoidé = tu é doido é?
Unha (de caranguejo) = tipo de salgado semelhante a coxinha de galinha
Veropa = mercado do Ver-O-Peso
Pipira (tipo de passarinho) varejeira (tipo de mosca) fazendo graça (se exibindo) = menina assanhada/piranha

5 comentários:

Rocio Rodi disse...

Franz,
Entrei em contato com a professora Fátima Torres, de Matemática, que me repassou, mas, nem ela sabe a autoria, pesquisei no google, e descobri que o texto rola em vários blogs daqui, sem autor por enquanto. O intuito é de conhecer o liguajar daqui, este é um bom material. Digamos que o autor é o povo paraense. rsrs!
Abraços!
Maria do Rocio

EE BRASIL disse...

Realmente, é um país de contrastes mil e linguajares idem! Como posso me virar em belém? Preciso me dedicar aos estudos antes de chegar lá!

esteblogminharua disse...

Oi, Rocio. Obrigado pela informação. Então, podemos dizer que é de domínio público, né?

esteblogminharua disse...

Oi, SÓ EU... Pode vir "só você" que Belem sabeá recebê-la com carinho.
Franz

Manuella Epaminondas disse...

Gostei muito do seu espaço, voltarei.
Grande abraço


http://manunatureza.blogspot.com/